quinta-feira, abril 06, 2006

Manual para irritar o maestro:

1. Nunca estar satisfeito com o tom da entrada. Se o maestro usar um diapasão,
insistir na preferência pelo piano - e vice versa.

2. Queixar-se da temperatura da sala de ensaio, da iluminação, da falta de
espaço ou das correntes de ar. É melhor fazer isto quando o maestro está sob
pressão.

3. Enterrar a cabeça na partitura mesmo antes de uma deixa importante.

4. Pedir uma nova audição ou uma mudança de lugar. Pedir frequentemente.
Dar a impressão de que se está prestes a desistir. Fazer com que o maestro saiba
que se está ali como favor pessoal.

5. Limpar ruidosamente a garganta durante as pauses (os tenores estão treinados
para fazer isto desde nascença). Interlúdios instrumentais calmos são uma boa
oportunidade para assoar o nariz.

6. Muito tempo após uma passagem, perguntar ao maestro se o Dó natural estava
afinado. Isto é particularmente eficaz se não se tiver um Dó natural ou se nem
sequer se estava a cantar na altura.

7. Esperar bastante tempo após o início do ensaio para dizer ao maestro que não
se trouxe nenhuma partitura.

8. Em momentos dramáticos da peça (quando o maestro estiver bastante
emocionado) ocupar-se a marcar a partitura, para que o clímax soe vazio e
desapontante.

9. Olhar frequentemente para o relógio. Agitá-lo com cepticismo, ocasionalmente.

10. Sempre que possível, cantar uma oitava acima ou abaixo do que está escrito.
Isto é um excelente treino auditivo para o maestro. Se ele der por isso, negar
veementemente e dizer que ele devia estar a ouvir os harmónicos.

11. Dizer ao maestro: "Não estou seguro(a) em relação à pulsação." Os maestros
são muito sensíveis em relação à sua técnica de marcação de tempo, portanto há
que desafiá-lo frequentemente.

12. Se se estiver a cantar numa língua pouco familiar para o maestro,
colocar-lhe tantas questões quanto possível acerca do significado de palavras
individuais. Ocasionalmente, dizer duas vezes a mesma palavra e perguntar ao
maestro a sua preferência em termos de pronúncia, assegurando-se de ter
pronunciado exactamente do mesmo modo das duas vezes.
Se o maestro não detectar nenhuma diferença, olhar com total desdém e murmurar
qualquer coisa acerca de "subtilezas de inflexão".

13. Perguntar ao maestro se ele ouviu a gravação de Bernstein da peça que se
está a ensaiar. Sugerir que ele poderia aprender uma coisa ou duas ao ouvi-la.
Também é bom perguntar: "Esta é a primeira vez que dirige esta peça?"

14. Se o fraseado diferir da dos outros coralistas, persistir obstinadamente na
nossa versão. Não perguntar ao maestro qual a versão correcta até estarem nos
bastidores, mesmo antes do concerto.

15. Durante uma pausa longa e significativa prolongar a nota durante mais um
segundo ou entrar uma pulsação antes do fim da pausa.

16. Não esquecer: mais piano significa mais lento!

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

isto diz ele para disfarçar as entradas erradas! hehe

07 abril, 2006 20:39  
Blogger BM said...

Acerca de... "...eu não sei se nunca repararam, mas eu estou sempre a testar o maestro neste tipo de coisas..."

Eu diria que tu testaste foi a nossa paciência com a tua nota de arrogância na 5ª-feira, 6 de Abril, ó tiozinho!

Partilho a impressão de quem lá esteve de que realmente tens um toque para a direcção, mas porque este é um blogue para dizer bem e mal, que fique claro que tens de acalmar os ânimos da próxima vez que pegares na batuta... Somos uma equipa. Não há lugar para destaques.

08 abril, 2006 12:59  
Blogger Zealot said...

LOOOOOL tá tão fixe

08 abril, 2006 21:04  
Blogger BM said...

Diogo: deu resultado, sim senhor. Aliás, repito, partilho a impressão de quem lá esteve de que tens um toque para a direcção. E mais: como o disse o Gonçalo, foi preciso coragem para agarrar o ensaio; o Luís tentou, o Armando tentou - tu conseguiste e estás, obviamente, de parabéns por isso. O que me parece que sucedeu foi uma mudança brusca de atitude a que não estou habituado. És sempre brincalhão (e sim, atento aos erros do maestro) mas ficaste extremamente sério e estranhamente confiante quando pegaste na rédea. Expressões como «...porque eu quero assim...» ou «...façam como eu disse e pronto...» podem não ter caído muito bem no goto de toda a gente. Dou razão ao Gonçalo no sentido de que não devia interromper o ensaio para te chamar à atenção desse facto (aliás, não o fiz, como sabes). E dou-te razão a ti no que respeita ao dever ter-te falado pessoalmente depois do ensaio. Mas isso são os famosos erros com quais aprendemos. Da próxima vez serei mais correcto.

De resto, como no início se disse que também era preciso dizer mal de alguém neste blog, lol, saíste-me tu na rifa! ;oP

Um destes dias escrevo-te uma declaração de amor...

09 abril, 2006 13:29  
Blogger Z said...

Fantástico!! Ora aqui está um blog que eu não conhecia mas vou imediatamente adicionar aos meus favoritos... e só por este post! Tenho de ir ver os outros, mas pra já vou divulgar!
Só uma questãozinha... por acaso têm alguma receita para maestros de orquestra? É que já há uns anos que não canto em coros ou canto em ensembles de câmara sem maestro, e por isso para grupos instrumentais dava-me mais jeito!
Cumprimentos musicais!

11 setembro, 2006 22:37  

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